terça-feira, 13 de março de 2012

Antidepressivo pode ajudar no tratamento de câncer

Combinada a outro medicamento, a tranilcipromina pode ser a peça que faltava no tratamento dos tipos mais comuns de leucemia mielocítica aguda

Um antidepressivo chamado tranilcipromina pode ser a peça que faltava no tratamento de leucemia mielocítica aguda (LMA), de acordo com um artigo publicado nesta segunda-feira na revista Nature Medicine. Os cientistas já conheciam o sucesso de um retinoide – fármaco derivado da vitamina A – chamado ácido all-trans retinoico (ATRA) no tratamento de um tipo raro da leucemia. Agora, cientistas do Instituto de Pesquisas sobre o Câncer (ICR), em Londres, descobriram que o retinoide pode ser combinado ao antidepressivo para combater também os tipos mais comuns de LMA.

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LEUCEMIA MIELOCÍTICA AGUDA
A LMA é um tipo de leucemia potencialmente mortal, na qual células cancerosas se acumulam muito rápido na medula óssea, destruindo e substituindo as que produzem células sanguíneas normais. Essas células leucêmicas são liberadas na corrente sanguínea e por ela transportadas a outros órgãos, onde continuam a crescer e se dividir. Se não passar por um tratamento, a maioria das pessoas com LMA morre em poucas semanas ou meses.

“Os retinoides já transformaram um tipo raro de leucemia fatal em uma doença curável. Nós encontramos agora uma maneira de aproveitar essas drogas poderosas para o tratamento de tipos mais comuns”, diz o doutor Arthur Zelent, líder da pesquisa. “Até agora, o porquê de outros tipos de LMA não responderem a essa droga era um mistério. Nosso estudo revelou que havia um bloqueio molecular que poderia ser revertido com uma segunda droga, que normalmente já é usada como antidepressivo”, conta.

A ATRA funciona estimulando as células leucêmicas a amadurecerem e morrerem naturalmente. A equipe acredita que alguns genes que a ATRA identifica como inativos podem ser a razão para esta droga não funcionar no tratamento de alguns tipos da leucemia mielocítica aguda. Foi então que os cientistas descobriram que, usando o antidepressivo para inibir uma enzima chamada de LSD1, seria possível reativar estes genes e tornar as células cancerosas suscetíveis ao medicamento ATRA.

“Nós achamos que esta é uma estratégia muito promissora, e se essas descobertas puderem ser replicadas em pacientes com câncer, os benefícios potenciais serão enormes.”, diz Zelent. Junto a colaboradores da Universidade de Münster, na Alemanha, os cientistas já começaram a segunda fase da pesquisa, que compreende o teste clínico da combinação das duas drogas, tranilcipromina e ATRA, em pessoas que sofrem de LMA.

Segundo os pesquisadores, os medicamentos atingem apenas as células cancerosas, deixando as células saudáveis em grande parte intocadas. Isso faz com que os efeitos colaterais sejam menos agressivos do que os causados pelos remédios convencionais. Além disso, “tanto o retinoide ATRA como o antidepressivo tranilcipromina já estão disponíveis no Reino Unido e sem patentes, ou seja, a utilização dessas drogas não sairia caro para os serviços de saúde”, explica Kevin Petrie, coautor do estudo.

http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/antidepressivo-pode-ajudar-no-tratamento-de-cancer

sábado, 10 de março de 2012

Aspirina modificada pode ser a nova arma contra o câncer

Segundo cientistas nova-iorquinos, ela poderia chegar a substituir remédios tradicionais

NOVA YORK — A aspirina, quem diria, que já ficou famosa por ajudar a prevenir problemas cardiovasculares, está prestes a ganhar um papel importante também na luta contra o câncer. Cientistas da The City College, uma universidade de Nova York, desenvolveram um novo composto à base da droga que, a médio prazo, pode se tornar uma poderosa arma contra o câncer, e bem mais segura do que os remédios usados atualmente para tratar a doença.

Já havia indícios de que a aspirina poderia ajudar no combate ao câncer; o problema eram os graves efeitos colaterais que sua utilização para este fim poderia causar. As modificações realizadas em sua composição, porém, parecem fazer os efeitos adversos desaparecerem, além de tornarem a droga bem mais potente.

A equipe da Escola Biomédia Sophie Davis, instalada na The City College, relatou que a nova aspirina inibiu o crescimento de 11 diferentes tipos de células cancerígenas em cultura, sem prejudicar as células saudáveis ao seu redor. Entre elas, estavam células causadoras dos cânceres de cólon, pâncreas, pulmão, próstata e mama, além de leucemia.

— Os componentes-chaves deste novo composto são muito, muito potentes, e ainda tem toxicidade mínima para as outras células — disse o professor associado Khosrow Kashfi, principal responsável pela pesquisa.

O composto de aspirina também reduziu tumores de cóloln em 85% em animais, sem efeitos adversos.

— Se o que vimos em animais puder ser transporto para homens, (o composto) poderia ser usado junto com outros remédios antes da quimioterapia ou de uma cirurgia — explicou Kashfi.

Usada principalmente como analgésicos, a aspirina e outras drogas chamadas anti-inflamatórias não esteroidais (Aines), como o ibuprofeno e o naproxeno, são conhecidos por sua capacidade de reduzir inflamações. Nos anos 1980, concluiu-se que uma aspirina por dia é capaz de diminuir os riscos de infarto e derrame. Estudos mais recentes demonstraram sua potencialidade também para inibir o desenvolvimento de câncer.

— Há muitos dados mostrando que, quando tomada regularmente, a aspirina reduz o risco de câncer de cólon em 50% — lembrou o professor Kashfi.

O problema é que o uso prolongado desta droga tem seus próprios riscos: os efeitos colaterais vão de úlceras hemorrágicas a falência dos rins. Para contornar a situação, os pesquisdores criaram um híbrido de duas formulações antigas, que chamaram de Nosh-aspirina. Eles usaram a aspirina como um suporte para duas moléculas que comprovadamente aumentam sua segurança e sua potência.

Uma delas, o óxido nítrico, ajuda a proteger o estômago. A outra é o sulfeto de hidrogênio, que, já se sabia, aumenta a capacidade da aspirina de combater o câncer. Os pesquisadores suspeitam de que o composto híbrido seria mais eficaz do que apenas uma das drogas isoladamente para elevar o potencial da aspirina contra a doença: apenas 24 horas depois de usada contra culturas de células cancerosas, a Nosh-aspirina demonstrou ser cem mil vezes mais potente que a aspirina comum.

— O híbrido é muito mais potente: 72 horas depois, ele já tinha 250 mil vezes mais força que a aspirina comum contra células humanas de câncer de cólon in vitro. Então, você precisa de uma quantidade menor para obter o mesmo resultado — afirmou Kashfi, o que leva a concluir que, usando doses menores, seria possível conseguir o efeito desejado contra o câncer minimizando ou eliminando efeitos colaterais.

O híbrido também mostrou ser 15 mil vezes mais potente do que a já conhecida No-aspirina e o equivalente a 80 vezes mais forte do que o composto que incorpora H{-2}S.

Na segunda parte do trabalho, quando ratos portadores de células humanas causadoras dos tumores de cólon receberam Nosh-aspirina oralmente, o composto destruiu células, inibiu sua proliferação e reduziu significativamente o crescimento do tumor, sem que houvesse qualquer sinal de toxicidade nos animais.

A expectativa é de que se possa criar uma droga baseada na Nosh-aspirina. Kashfi, porém, observa que os próximos passos serão testes de toxicidade e ensaios clínicos, e que a possibilidade de um tratamento deste tipo passar a ser oferecido em hospitais e consultórios ainda pode demorar anos até se tornar realidade.

Os estudos foram financiados pelo Instituto Nacional do Câncer e pela Fundação Nacional de Ciência americanos. A equipe, agora, apresentará suas descobertas no evento anual promovido pela Associação Americana para a Pesquisa do Câncer, a ser realizado no fim do mês, em Chicago.

http://oglobo.globo.com/saude/aspirina-modificada-pode-ser-nova-arma-contra-cancer-4262988